Blumenau, ano de 2008. O garoto Isaac de Azevedo, defensor, então com 14 anos, e um dos destaques do time, chega triste para treinar no projeto de Punhobol do Guarani Esporte Clube. Uma conversa rápida com o professor Reinaldo César Guimarães, que desde 1987 ministra a modalidade para os garotos blumenauenses, e se descobre que Isaac está prestes a ser reprovado na 8ª série do colégio João Widmann, de Blumenau.
Ato contínuo o professor vai até a escola, fala com a diretora e percebe que as chances de aprovação são remotas, já que o aluno teria que tirar nota 9 em algumas disciplinas chaves como Português e Matemática. Diante da realidade Reinaldo lança um desafio. Para continuar no projeto Punhobol Isaac teria que passar de ano na escola. Caso contrário, estaria fora. O garoto chora, pois as chances de aprovação, na sua cabeça, seriam mínimas.
O ano de 2009 para Issac se mostrava nebuloso, pois além de ser reprovado na escola seria privado de fazer o que mais gostava: treinar, jogar punhobol. Diante da realidade o jovem engoliu o choro, enxugou as lágrimas e foi à luta. Com auxilio de uma professora focou nos estudos como se fora uma final de campeonato. Dias depois o boletim fora entregue ao professor Reinaldo com uma palavra escrita que ninguém imaginava: “Aprovado”.
A vitória de Isaac foi apenas a primeira de uma série que viria depois dentro do projeto de punhobol, uma modalidades tipicamente alemã, ou seja, um esporte que tem todo o DNA do povo blumenauense, personificado no titulo brasileiro adulto de 1995 com o Guarani. Posteriormente a tensa experiência Isaac só evoluiu. Aos 18 anos foi campeão mundial pela seleção brasileira juvenil e durante quatro anos integrou a seleção brasileira principal. Chegou a um grau de importância tão significativo no esporte que foi um dos escolhidos para participar da cerimônia do revezamento da tocha dos Jogos Olímpicos Rio 2016 em Blumenau.
Hoje, aos 25 anos, ao lado do professor Reinaldo, Isaac, além de atleta, é também treinador dos garotos que fazem parte do Projeto da Associação dos Pais e Amigos do Punhobol (APAP), entidade criada em 2021 para ser parceira do Guarani Esporte Clube. “Quando ele estava prestes a entrar na faculdade, lancei para ele um novo desafio. Se passasse no vestibular de Educação Física, o desejo dele, ele seria professor no projeto junto comigo. Ele aceitou, foi aprovado e hoje é também o treinador das categorias de base”, lembra Reinaldo.
Desafio também é palavra de ordem dentro do projeto punhobol da APAP, que oferece gratuitamente na quadra do Guarani Esporte Clube a prática da modalidade nas categorias mirim, infanto, juvenil, júnior e adulto abrangendo a idade a partir dos 10 anos. Na verdade, o projeto APAP é a continuação do trabalho desenvolvido há 50 anos dentro do Guarani, que já deu para Blumenau 23 títulos do punhobol masculino dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc), se consagrando como a modalidade coletiva mais vencedora dos blumenauenses nos 60 anos da competição.
São atualmente, dentro do projeto da APAP cerca de 30 participantes que treinam em média de duas a três horas diárias às terças, quintas e sábados, principalmente fundamentos como passe, saque e levantamento. Há ainda em dias programados espaços para os treinamentos físicos.
Toda a dedicação inserida no projeto traz bons frutos. O atacante Nélson, 15 anos, é uma das promessas do projeto. Atleta forte é bastante dedicado nos treinamentos. Há outros que já são realidade como Vitor Amorim, 22 anos, e Henrique Cunha, 20, que já foram campeões juvenis pela seleção brasileira. O trio se espelha em outro medalhão: Guilherme dos Santos, 37 anos, que deu os primeiros passos no Punhobol, primeiramente Escola Machado de Assis e depois nas quadras do Guarani e tem no currículo 13 anos de seleção brasileira.
“O Punhobol foi amor à primeira vista e, como todo esporte, mudou a minha vida. Aprendemos desde o começo a ter disciplina, a saber valorizar o trabalho em grupo, saber o valor da derrota e da vitória, aprendizados que a gente leva para a vida tanto no esporte como no trabalho e na vida pessoal. No Punhobol descobri minha vontade de trabalhar com o esporte onde comecei a estudar Educação Física e hoje atuo na área. Além disso o Punhobol me proporcionou a possibilidade de conhecer lugares que nunca imaginei que iria. Graças ao Punhobol conheci mais de 10 países”, agradece Guilherme.
“É gratificante, como treinador e professor, influenciar positivamente na vida destes atletas. O esporte ensina a você ser cidadão, a saber ganhar e perder, enfim, influencia na vida social de cada um. Ou seja, o esporte ensina aos atletas a serem pessoas melhores dentro da sociedade”, admite o treinador Reinaldo César Guimarães.
“O punhobol mudou minha vida como pessoa e como atleta. Em 2009 fui convocado pra Seleção sub-18 pela primeira vez com 15 anos sendo logo campeão Sul- Americano. No Ano seguinte fui convocado para meu primeiro mundial Sub-18, na Espanha, onde fui vice campeão. Em 2012 joguei meu segundo mundial juvenil em Cali, Colômbia e fui mais uma vez campeão mundial Sub-18 . Em 2013 iniciei minha carreira na seleção brasileira adulta, período em que tive a oportunidade de conhecer diversos lugares pelo mundo e de ser campeão Sul – Americano, Pan Americano e realizei meu sonho de jogar um Mundial Adulto em 2015 na Argentina”. As palavras de Isaac, o garoto quase reprovado, personagem inicial desta matéria, dá uma dimensão da importância do punhobol em sua vida que começou em um projeto social.
Texto e fotos: Antônio Prado