“A pequena cidade das grandes marcas”, manchete da página de esportes do Jornal de Santa Catarina sobre a participação de Salete nos Jogos Abertos de Rio do Sul em 1971. Chamada de “A Cidade da Fé”, colonizada por alemães, italianos e ucranianos, Salete tem hoje pouco mais de sete mil habitantes, segundo dados do IBGE. Imaginemos há 51 anos.
O destaque alcançado pelo atletismo deste pequeno município – a 80 km de Rio do Sul -, presente aos Jasc com uma delegação de apenas 52 pessoas, entre atletas e dirigentes, se deve a dois personagens: ao Padre Bruno, como era conhecido o diretor do Seminário Espírito Santos, e à jovem Carmem Schreiber.
O alemão Bruno, oriundo da desconhecida Murg, logo que apareceu em Salete, 1969, tratou de incentivar a prática de esporte. Botou a meninada pra correr e saltar na improvisada pista de areia, construída graças à boa vontade do prefeito, anexa ao campo de futebol do colégio. “Treinávamos e corríamos descalços, até machucar os pés”, lembra a adolescente Carmem, na época com 16 anos.
Os primeiros resultados começaram a aparecer na Olimpíada organizada pelo padre, reunindo estudantes de Salete, Taió, Rio do Oeste e Rio do Campo. Foi nessa competição que Carmem, hoje com 67 anos, conheceu o pódio, com resultados que a levaram aos Jogos Abertos como uma das principais representantes do atletismo de Salete.
“Sempre gostei do esporte, meus olhos brilhavam quando estava perto de uma competição. Meus três filhos – Dalzi, Djan e Luís Antônio – receberam todo o apoio para seguir o meu caminho”. O mais moço, 33 anos, é dentista e mora em Brasília. Joga tênis de campo por lazer. Dalzir, o mais velho, 47, foi goleiro de futsal da CME de Salete. Djan, 43, também optou pelo futsal.
Ao falar com orgulho e entusiasmo da sua intimidade com o esporte, vem as lembranças do sucesso nos Jasc de 71. Carmem ganhou ouro nos 200 metros rasos, e no salto em distância, bronze no salto em altura, no 4x100 e nos 800 metros. O talento para a modalidade a levou com a delegação catarinense aos Jogos Estudantis Brasileiros, onde conquistou o título no salto em distância.
As sapatilhas de competição eram caras, mas o esforço para competir com pés descalços, inevitavelmente machucados, compensava a dedicação, dela e do Padre Bruno Compreensível, então, a aflição dele, que acompanhava as provas agarrado ao alambrado do estádio Alfredo João Krieck, protegido do sol com um imenso chapéu de palha. O padre não está mais em Salete, ninguém sabe dele, mas as boas recordações ficaram. E Carmem não quer esquecer nunca daqueles bons momentos. Sempre que puder vai deixar as atividades em Taió, na sua loja de produtos naturais, e sua casa em Salete, irá acompanhar os Jogos Abertos em Rio do Sul.
Fonte: Mário Medaglia/Especial
Fotos da Carmem saltando/Arquivo pessoal
Carmem Schreiber é comerciante em Taió e mora em Salete/Arquivo pessoal