A ideia de organizar em Santa Catarina uma competição nos moldes dos Jogos Abertos do Interior, promovidos desde 1936 no estado de São Paulo, chegou a ser acalentada algumas vezes por desportistas e dirigentes barrigas-verdes. Mas se na rica terra do café, detentora da maior malha rodoferroviária do país, o transporte era fácil e barato, aqui a iniciativa esbarrava sempre nas péssimas condições das nossas estradas e na inércia em que estava mergulhado o nosso esporte amador.
Por certo, não seriam poucas as dificuldades para que um plano tão audacioso pudesse ser colocado em prática; algumas, por sinal, insuperáveis.
Muito embora trinta anos mais tarde Santa Catarina viesse a se tornar um modelo no setor de telecomunicações, na década de 1950 eram grandes as deficiências nesse setor. Caro e com pouca oferta de linhas, o telefone era inacessível à maioria das famílias, ficando restrito às pessoas mais abastadas, aos órgãos públicos e às empresas. As comunicações mais urgentes eram feitas pelo antigo telex, um ancestral do e-mail. O restante era feito da maneira tradicional, pelo correio.
A precariedade dos nossos sistemas de comunicação era fichinha se comparada à calamidade que eram as nossas rodovias, o que tornava ainda mais difícil a tarefa de reunir representantes dos quatro cantos do estado em torno de uma competição esportiva. Deste modo, havia por parte dos organizadores uma grande apreensão em relação ao sucesso dos Jogos. “Será que os municípios virão?”, questionavam-se.
Naquela época, também as condições financeiras das entidades desportivas não eram das melhores e os poucos campeonatos estaduais do calendário catarinense atraíam quase sempre os mesmos municípios (Florianópolis, Joinville e alguns do Vale do Itajaí, que podiam contar com o eventual apoio de grupos industriais, e, muito raramente Lages), deixando isolados os clubes do sul e do oeste.
“O esporte amador gritava desesperadamente por um movimento redentor”, relata o professor e enxadrista Alexandre Muniz de Queiroz, em um dos raros livros sobre os Jogos Abertos de Santa Catarina. Queiroz, baiano radicado em Joaçaba, falecido em 2007, aos 91 anos, teve papel de destaque no desenvolvimento dos JASC. Participou como atleta e dirigente das 25 primeiras edições dos Jogos e foi um dos poucos a se preocupar com a preservação da memória do evento.
De acordo com o professor, a prestigiada Sociedade Esportiva Bandeirante – fundada em Brusque, no ano de 1900, inicialmente uma associação de ginastas denominada “Turnverein Brusque” – foi a placenta de onde eclodiram os Jogos Abertos de Santa Catarina. Já em 1949, quando uma delegação da entidade visitou São Paulo por ocasião do cinquentenário do Clube Pinheiros, houve interesse em conhecer detalhes do funcionamento dos Jogos Abertos do Interior, criados pelo ex-jogador de basquete e então jornalista, Horácio “Baby” Barioni, e disputados pela primeira vez em Monte Alto, com o apoio do presidente da Associação Atlética Montealtense, Manoel Carvalho de Lima. É considerado o maior e mais antigo evento do gênero no País.
Segundo um relato dos dirigentes da época, esporadicamente clubes catarinenses participavam dos Jogos promovidos no interior de São Paulo. Há registros da presença de atletas de Tubarão, Joinville e Blumenau. Mas foi em 1957, com o envio de uma delegação de 28 pessoas da Sociedade Esportiva Bandeirante para representar Santa Catarina nos 22ºs Jogos Abertos do Interior de São Paulo, na cidade de São Carlos, que o sonho de criar os JASC começou efetivamente a ganhar musculatura.
Faltam 43 dias para os 56º JASC (Jogos Abertos de Santa Catarina). A partir de hoje, postaremos diariamente matérias com a história dos Jogos, grandes atletas e incentivadores, resultados e históricos por modalidades, pra já irmos 'entrando no clima' da maior competição esportiva de Santa Catarina. JASC de ponta a ponta, só na RWE!
Extraído do livro “JASC 50 anos, história de vencedores” de Marco Aurélio Gomes e Valmor Fritsche
Fotos: Acervo Fesporte e http://memoriaesportivadesc.blogspot.com.br (do jornalista Antonio Prado)